Ela estava sentada em frente a sua velha escrivaninha de madeira, vigiada por um espelho que cobria a parede. O pequeno caderno de capa azul celeste que servia como diário pra moça de cabelos cor de fogo estava aberto sobre o móvel delicado numa página em branco. Mentira! A página estava parcialmente em branco pois havia algumas frases riscadas de textos que começara a escrever, mas não teve como continuar; não faltou imaginação, não lhe faltou sensibilidade e, sim na verdade, lhe faltou sentimentos pra expressar.
O lápis em sua mão tinha uma das extremidades úmida pois não saía de sua boca, a ansiedade por querer escrever e não ter sobre o que fazer a pertubava, afinal sua mente sempre esteve aberta, aberta o suficiente pra nunca lhe faltar conteúdo, nunca lhe faltar palavras.
A ponta do lápis quicava ao lado do caderno destruindo o silêncio do local. Sua inquietação e sua dificuldade de se concentrar seria fácilmente notada caso ela não estivesse sozinha.
Então, ela bate suas pestanas e seus longos cílios abrem passagem para a gotícula retida no canto de seu olho esquerdo transbordar e escorrer lentamente pelo seu rosto de linhas fortes. A menina fita o espelho a tempo de observar a lágrima cortar sua face. Afinal era isso, ela estava sozinha.